Porque é tão difícil reconhecer o próprio progresso?

Porque é tão difícil reconhecer o próprio progresso?

A história de Ana e a armadilha da comparação

Essa é a história de Ana (nome fictício), mas pode ser a história de muitas outras pessoas. Uma paciente que chegou ao meu consultório com um desejo muito claro: conquistar a forma física de uma influenciadora fitness.

Quando nos encontramos pela primeira vez, Ana pesava 73 kg e tinha 39% de gordura corporal. Além disso, queixava-se de indisposição, sono de má qualidade e outros desconfortos. Mas ela estava determinada: seguiu o plano alimentar à risca e começou a treinar musculação cinco vezes por semana.

Seis consultas depois, voltou para a reavaliação. Sentia-se mais disposta, dormia melhor e estava muito mais saudável. Mas, para minha surpresa, disse que não estava satisfeita.

“Acho que não estou a progredir como gostaria.”

Ao refazer as medições, os números mostraram uma grande evolução: Ana agora pesa 58,2 kg e tem 25% de gordura corporal. Como profissional, considero este resultado incrível!

Mas quando perguntei o que ainda a incomodava, simplesmente pegou o telemóvel, abriu o Instagram e mostrou-me a foto de uma influenciadora fitness:

“Quero ter este corpo.”

Coincidentemente, eu conhecia essa “influenciadora”. Já havia treinado no mesmo ginásio que ela no Rio de Janeiro, então perguntei:

— Conheces esta mulher? Sabes como é a rotina dela? Como ela treina e se alimenta?

Continuei explicando:

— Esta mulher treina há pelo menos 15 anos, seis vezes por semana, por duas horas por dia. Este é o trabalho dela: treinar e partilhar nas redes sociais. Mas e a tua rotina? Passas 10 horas por dia num escritório, tens dois filhos pequenos, uma casa para gerir… E sem contar com os vários procedimentos estéticos que esta “influenciadora” já fez e continua a fazer.

O silêncio de Ana foi a resposta.

Este episódio fez-me refletir: se isto acontece com uma mulher de 40 anos, como será a perceção de uma adolescente de 16?

Se já passaste por algo parecido, aqui ficam três pontos essenciais para veres a tua evolução de forma mais saudável:

1. A tua única referência deve ser tu mesma

Nunca, mas nunca mesmo, te compares com outras pessoas – seja no físico, na carreira ou na vida financeira. Cada um tem a sua história, os seus desafios e as suas possibilidades.

2. Regista o teu progresso

Tira fotografias, anota as tuas conquistas e compara apenas com o teu próprio passado. Pequenos avanços fazem toda a diferença! Além disso, contabiliza outras melhorias além da estética, como a tua disposição, o teu sono, o teu humor e outros fatores que refletem a tua evolução.

3. Respeita o teu tempo

O progresso tem altos e baixos, e está tudo bem. O importante é continuar. Desistir só te faz voltar à estaca zero, e aí são dois trabalhos: recomeçar e recuperar o que já tinhas conquistado. Não importa se falhares numa refeição ou num treino, cada refeição ou atividade é uma nova oportunidade!

A tua jornada é única. Valoriza cada passo que já deste e segue ao teu ritmo!